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DOI: 10.1055/s-0041-1726059
Avaliação isocinética do ombro após procedimento cirúrgico de Bristow/Latarjet em atletas[*]
Artikel in mehreren Sprachen: português | EnglishResumo
Objetivos Avaliar a força muscular dos rotadores medial (RM) e lateral (RL) do ombro após cirurgia de Bristow/Latarjet.
Métodos Estudo transversal com 18 pacientes (36 ombros). A avaliação isocinética foi realizada por meio do dinamômetro Biodex 3 System Pro (Biodex Medical System, Inc., Shirley, NY, EUA). A escala de avaliação dos resultados do ombro do esportista (EROE) e a escala visual analógica (EVA) da dor foram aplicadas.
Resultados Os valores do pico de torque e o trabalho máximo no modo concêntrico e excêntrico no ombro não-operado foram maiores que no lado operado, tanto para o RM e como para o RL (p < 0,01). O equilíbrio convencional e funcional entre o RL e o RM não apresentou diferenças entre o lado operado e o não operado. Na comparação entre pacientes com o tempo pós-operatório < 1 ano ou ≥ 1 ano, não se observou diferenças nos valores do pico de torque em 60°/s e 240°/s e do trabalho máximo em 60°/s e 240°/s do RM para o ombro operado. No entanto, os valores de do pico de torque em 60°/s e 240°/s e do trabalho máximo em 60°/s e 240°/s do RL foram superiores em indivíduos com tempo pós-cirúrgico ≥ 1 ano em todas as variáveis (p < 0,05).
Conclusões Houve diminuição da força do RM e do RL no ombro operado em relação ao ombro saudável; porém, o equilíbrio convencional e funcional foi mantido.
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Introdução
A articulação glenoumeral é a que tem maior mobilidade no ser humano. Esta grande amplitude de movimento, juntamente com a baixa congruência óssea entre a cavidade glenoidal e a cabeça do úmero, confere-lhe maior suscetibilidade ao deslocamento.[1] [2]
O procedimento de estabilização Bristow/Latarjet é um tratamento cirúrgico descrito para luxação anterior recidivante do ombro em pacientes com déficit capsular e ósseo. Tanto o procedimento aberto como o artroscópico produzem excelentes resultados clínicos com baixas taxas de recidiva.[3] [4] [5] [6] [7] [8] [9]
De fato, uma das grandes preocupações no pós-operatório são as complicações normalmente relatadas, tais como diminuição ou perda da amplitude de movimento do ombro. Esta questão é de grande relevância na medicina esportiva atual, pois o retorno ao gestual esportivo anterior à lesão é primordial para o atleta. A transferência através do músculo subescapular representa uma violação do estabilizador ativo mais importante da articulação glenoumeral. Esta agressão cirúrgica pode levar à atrofia e ao desequilíbrio da musculatura do ombro.[10] [11] [12] [13] [14] [15]
Neste sentido, as avaliações de imagens e isocinéticas têm sido referidas, tanto na seleção dos pacientes com melhor indicação cirúrgica quanto no pós-operatório, permitindo um programa de reabilitação adequado e direcionado. No entanto, poucos estudos descreveram problemas específicos que afetariam o sistema da articulação do ombro após cirurgia da instabilidade anterior, através da metodologia isocinética, cuja avaliação pode servir como uma ferramenta útil para o retorno do atleta ao esporte.[11] [12] [13] [14] [15]
Os objetivos do estudo foram: avaliar o resultado funcional; avaliar a força muscular dos rotadores medial (RM) e lateral (RL) do ombro após cirurgia de Bristow/Latarjet; analisar a associação entre o padrão de força e o tempo de cirurgia, e verificar se existe associação entre a perda de amplitude de movimento com os parâmetros isocinéticos. A hipótese é que a cirurgua de Bristow/Latarjet leva a uma diminuição de força dos RMs e RLs, com manutenção do equilíbrio funcional.
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Metodologia
Este foi um estudo observacional, transversal que analisou pacientes atendidos no período de janeiro de 2013 a dezembro 2017 no ambulatório de ombro da nossa instituição. Todos os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido para a participação na pesquisa antes da coleta dos dados. O projeto foi aprovado pela Plataforma Brasil e pelo Comitê de Ética em Pesquisa com número CAAE: 89698818.5.0000.5505.
Foram incluídos os atletas com diagnóstico de instabilidade anterior traumática do ombro com o tempo de pós-operatório de Bristow ou Latarjet maior que 6 meses.
Os critérios de não-inclusão foram: cirurgia prévia no ombro, presença de lesões associadas, tais como lesão do manguito rotador ou lesão do labrum superior anterior a posterior (SLAP, na sigla em inglês), e presença de lesões no ombro contralateral.
Foram excluídos pacientes que apresentaram dor ou desconforto durante a avaliação isocinética.
O presente estudo incluiu 23 pacientes, cujo tamanho amostral baseou-se em uma série de casos operados em nossa instituição. No entanto, foram excluídos três pacientes que já haviam sido submetidos a um procedimento cirúrgico prévio e dois pacientes que apresentaram alterações no ombro contralateral (instabilidade anterior). Dessa forma, um total de 18 pacientes (36 ombros) foram avaliados.
Os pacientes foram selecionados de acordo com o fluxograma para cirurgia de instabilidade glenoumeral anterior do grupo de ombro e cotovelo da disciplina de medicina esportiva da nossa instituição ([Figura 1]). Os procedimentos cirúrgicos foram realizados por meio de anestesia geral associada ao bloqueio do plexo braquial com o paciente posicionado em cadeira de praia. Foi realizada a via deltopeitoral com uma incisão de aproximadamente 5 cm, seguida pela osteotomia do processo coracoide e fixação do enxerto na região anteroinferior da glenóide através de uma incisão longitudinal no terço médio do tendão subescapular, com um ou dois parafusos (Bristow ou Latarjet). Não foi suturado o ligamento coracoacromial. Todos os pacientes participaram do mesmo protocolo de reabilitação da nossa instituição. Uma tipóia tipo velpeau foi mantida por 3 semanas em tempo integral, iniciando após a 3ª semana movimentos passivos controlados bem como exercícios de controle escapular. Após a 6ª semana os exercícios ativos foram iniciados, e após 10 semanas exercícios de fortalecimento e alongamento foram introduzidos. O retorno ao esporte foi permitido após 4 meses.
Os participantes do estudo responderam a um questionário demográfico específico e aos seguintes escores traduzidos e previamente validados para o português para avaliação do resultado funcional: escala dos resultados do tratamento cirúrgico do ombro do atleta (EROE),[16] que avalia a estabilidade do ombro, arco de movimento e dor (resultados ruins ≤ 50 pontos; resultados bons 75–89 pontos e resultados excelentes 90–100 pontos) e escala visual analógica (EVA) da dor[17].
Avaliação Isocinética
O teste isocinético é caracterizado pela avaliação da força muscular em uma velocidade constante e prefixada. A avaliação isocinética foi realizada através do dinamômetro Biodex 3 System Pro (Biodex Medical Systems, Inc., Shirley, Nova York, EUA) ([Figura 2]). Os pacientes foram posicionados na cadeira do dinamômetro com o ombro em 45° de abdução (plano da escápula), e cotovelo em 90° de flexão com antebraço neutro. O arco de movimento foi fixado em 90° (45° RM e 45° RL) de acordo com a metodologia de Davies, que possibilita maior reprodutibilidade e menor risco de apreensão em comparação com ombro a 90°.[14] Esta posição possui uma biomecânica mais vantajosa por proporcionar máxima segurança e conforto nos testes. Isso ocorre devido a maior congruência das superfícies articulares, que além de manter uma posição neutra, relaxa as estruturas capsulares e coloca os músculos em uma posição mais vantajosa.[18]
Os testes foram realizados com 1 minuto de recuperação entre cada exame. Os atletas executaram 4 repetições no modo concêntrico nas velocidades de 60°/s e 240°/s e 4 repetições no modo excêntrico a 60°/s (protocolo padrão) ([Figura 3]).
As seguintes variáveis isocinéticas foram analisadas:
-
Pico de torque (Newtons-metros/kg)
-
Trabalho máximo (joules/kg)
-
Equilíbrio convencional (RL concêntrico/ RM concêntrico) 60°/s (%)
-
Equilíbrio funcional (RL excêntrico / RM concêntrico) 60°/s (%)
O trabalho máximo e torque máximo de RLs e RMs do ombro foram normalizados pela massa corporal. Dentre as medidas adotadas, o trabalho máximo é a que mais representa a função muscular, pois indica a produção de força durante toda a amplitude da contração, enquanto o torque máximo mensura apenas um ponto ou pico de força dentro da amplitude total.[19]
Avaliação principal da goniometria do ombro foi realizada com paciente deitado, com ombro em abdução de 90 graus e cotovelo flexão de 90 graus. A rotação medial e lateral foi avaliada no plano sagital com auxílio de um goniômetro da marca Carci (São Paulo, SP, Brasil) feito de PVC, medindo 22 cm de comprimento e 0,8 mm de espessura, comparando a amplitude do arco de movimento do ombro operado com o saudável.
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Análise Estatística
Para se testar a homogeneidade entre as proporções, foi utilizado o teste do qui-quadrado ou o teste exato de Fisher. A média entre dois grupos após a cirurgia foi comparada através do teste t de Student pareado, pois os dados são pareados, ou seja, quando o mesmo sujeito é pesquisa e controle dele mesmo. Foram consideradas diferenças estatisticamente significativas aquelas que apresentaram o nível de significância de 5% (p < 0.05).
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Resultados
A média de idade dos atletas foi de 26,7 anos, variando de 19 a 38 anos. A média do escore de EROE[16] foi de 91,0, sendo 62,5% de excelentes e 37,5% bons. A EVA de dor teve uma média menor que 1. O tempo de retorno médio ao esporte foi de 4,81 meses, sendo o tempo máximo 6 meses e o mínimo de 4 meses.
Na comparação da avaliação isocinética do RM entre o lado operado e o não-operado, foi observada uma diferença estatisticamente significante. A média do pico de torque e o trabalho máximo em 60°/s e 240°/s pelo protocolo padrão no ombro não-operado foi maior que a média do lado operado, apresentando p ≤ 0,01 ([Tabela 1]).
Rotador medial |
Rotador lateral |
||||
---|---|---|---|---|---|
Média/DP |
P |
Média/DP |
P |
||
Pico de torque 60°/s (Nm/kg) |
Operado |
0,487 ± 0,116 |
< 0,001 |
0,252 ± 0,081 |
0,002 |
Não operado |
0,589 ± 0,157 |
0,328 ± 0,094 |
|||
Pico de torque 240°/s (Nm/kg) |
Operado |
0,411 ± 0,149 |
0,004 |
0,188 ± 0,079 |
0,001 |
Não operado |
0,471 ± 0,160 |
0,265 ± 0,123 |
|||
Trabalho máximo 60°/s (J/kg) |
Operado |
47,9 ± 11,5 |
< 0,001 |
23,0 ± 8,4 |
< 0,001 |
Não operado |
60,0 ± 16,1 |
33,5 ± 10,0 |
|||
Trabalho máximo 240°/s (J/kg) |
Operado |
34,3 ± 13,6 |
< 0,001 |
13,1 ± 7,0 |
0,001 |
Não operado |
42,6 ± 16,7 |
20,1 ± 9,1 |
A avaliação isocinética dos RLs entre o lado operado e O não-operado também apresentou uma diferença estatisticamente significativa. Semelhante à análise do RM, os valores médios do pico de torque e do trabalho máximo pelo protocolo padrão no ombro não-operado foram superiores que os do lado operado, apresentando p ≤ 0,01 ([Tabela 1]).
Quando avaliamos o equilíbrio convencional e funcional entre os RMs e RLs([Tabela 2]), podemos verificar que não existem diferenças entre as médias encontradas no lado operado versus o lado não operado.
Equilíbrio |
Média |
P |
|
---|---|---|---|
Convencional (RLc/RMc) 60°/s (%) |
Operado |
51,9% ± 13,7% |
0,199 |
Não operado |
56,3% ± 12,0% |
||
Funcional (RLecc/Rc) 60°/s (%) |
Operado |
2,68 ± 1,86 |
0,568 |
Não operado |
2,54 ± 1,59 |
A fim de analisar se os resultados da avaliação isocinética poderiam ser influenciados pelo tempo decorrido após a realização do procedimento cirúrgico, os pacientes foram divididos entre aqueles com menos de 1 ano de operados e aqueles com 1 ano ou mais de operados ([Tabela 3]). Para o ombro operado, foi observado que os valores do pico de torque e do trabalho máximo pelo protocolo padrão do RM não apresentaram diferenças. No entanto, quando considerarmos os valores do pico de torque e do trabalho máximo pelo protocolo padrão do RL, esses foram superiores em indivíduos com tempo pós cirúrgico igual ou superior a 1 ano em todas as variáveis, p ≤ 0.05.
Tempo isocinético (operado) |
Média ± DP |
P |
|
---|---|---|---|
Pico de torque 60°/s RM (%) |
< 1 ano |
0,469 ± 0,148 |
0,546 |
≥ 1ano |
0,506 ± 0,079 |
||
Trabalho máximo 60°/s RM (J) |
< 1ano |
43,4 ± 13,0 |
0,123 |
≥ 1ano |
52,4 ± 8,4 |
||
Pico de torque 240°/s RM (%) |
< 1ano |
0,382 ± 0,173 |
0,46 |
≥ 1ano |
0,440 ± 0,125 |
||
Trabalho máximo 240°/s RM (J) |
< 1ano |
32,8 ± 17,5 |
0,679 |
≥ 1ano |
35,8 ± 9,3 |
||
Pico de torque 60°/s RL (%) |
< 1ano |
0,191 ± 0,065 |
< 0,001 |
≥ 1ano |
0,314 ± 0,036 |
||
Trabalho máximo 60°/s RL (J) |
< 1ano |
16,9 ± 7,2 |
0,001 |
≥ 1ano |
29,0 ± 4,1 |
||
Pico de torque 240°/s RL (%) |
< 1ano |
0,147 ± 0,075 |
0,034 |
≥ 1ano |
0,228 ± 0,063 |
||
Trabalho máximo 240°/s RL (J) |
< 1ano |
9,4 ± 5,6 |
0,03 |
≥ 1ano |
16,8 ± 6,6 |
||
Equilíbrio convencional (RLc/RMc) 60°/s (%) |
< 1ano |
41,2% ± 9,9% |
< 0,001 |
≥ 1ano |
62,6% ± 6,4% |
||
Equilíbrio funcional (RLecc/Rc) 60°/s (%) |
< 1ano |
2,60 ± 2,20 |
0,866 |
≥ 1ano |
2,77 ± 1,60 |
O equilíbrio convencional 60°/s também apresentou diferenças estatísticas, com p ≤ 0,001, sendo que os pacientes com 1 ano ou mais de operados obtiveram média superior em relação a indivíduos com tempo pós-cirúrgico menor que 1 ano. Já para o ombro não operado, não foi observada nenhuma diferença estatística (p ≥ 0.05) entre as variáveis isocinéticas.
Com o objetivo de averiguar se a perda angular de movimento influenciava na avaliação isocinética, os pacientes foram divididos em perda menor que 10 graus e maior ou igual a 10 graus. Para o ombro operado ([Tabela 4]) não foram observadas diferenças estatísticas em nenhuma das variáveis isocinéticas (p ≥ 0,05).
Perda de rotação lateral |
Média |
P |
|
---|---|---|---|
Pico de torque 60°/s RM (%) |
< 10 |
0,460 ± 0,123 |
0,359 |
≥ 10 |
0,515 ± 0,110 |
||
Trabalho máximo 60°/s RM (J) |
< 10 |
47,8 ± 13,5 |
0,959 |
≥ 10 |
48,1 ± 10,1 |
||
Pico de torque 240°/s RM (%) |
< 10 |
0,351 ± 0,110 |
0,109 |
≥ 10 |
0,471 ± 0,165 |
||
Trabalho máximo 240°/s RM (J) |
< 10 |
30,9 ± 12,9 |
0,329 |
≥ 10 |
37,7 ± 14,3 |
||
Pico de torque 60°/s RL (%) |
< 10 |
0,250 ± 0,083 |
0,925 |
≥ 10 |
0,254 ± 0,085 |
||
Trabalho máximo 60°/s RL (J) |
< 10 |
24,4 ± 8,7 |
0,51 |
≥ 10 |
21,5 ± 8,5 |
||
Pico de torque 240°/s RL (%) |
< 10 |
0,169 ± 0,069 |
0,35 |
≥ 10 |
0,207 ± 0,087 |
||
Trabalho máximo 240°/s RL (J) |
< 10 |
11,9 ± 6,3 |
0,522 |
≥ 10 |
14,3 ± 7,9 |
||
Equilibrio convencional (RLc/RMc) 60°/s (%) |
< 10 |
53,9% ± 11,2% |
0,565 |
≥ 10 |
49,9% ± 16,3% |
||
Equilibrio funcional (RLecc/Rc) 60°/s (%) |
< 10 |
2,80 ± 2,15 |
0,807 |
≥ 10 |
2,56 ± 1,66 |
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Discussão
Nosso estudo envolveu a avaliação isocinética de 36 ombros de 18 atletas submetidos a cirurgia de Bristow-Latarjet. Na literatura estrangeira, encontramos poucos artigos sobre esta avaliação após a cirurgia de Bristow-Latarjet.[10] [11] [12] [20] [21] [22] Já na literatura nacional encontramos apenas o estudo de Castropil,[22] que realizou avaliação isocinética após à reparação da lesão de Bankart associada à capsuloplastia ântero-inferior. Isto evidencia a importância desta avaliação, levando-se em consideração a escassez de referencias nacionais e internacionais.
Houve comparação entre as medidas isocinéticas entre o ombro operado e ombro contralateral saudável após a cirurgia de Bristow-Latarjet, assim como em trabalhos prévios.[10] [19] [20] [23] Apesar disso, outros métodos foram descritos, como a comparação entre ombro antes e após a cirurgia.[20] [21]
O escore de EROE[16] foi bom em 37,5% e excelente em 62,5% dos nossos pacientes, sendo que este escore não foi previamente avaliado. Entretanto, Wredmark et al.[18] avaliaram fatores relacionados ao EROE,[16] como mobilidade, força e estabilidade, e encontraram valores bons ou excelentes em 42 de 44 pacientes (95%).
A metodologia da avaliação isocinética não é homogênea na literatura,[18] [19] [20] sendo que diversos trabalhos apresentam protocolos com 30° ou 0° de abdução,[19] enquanto que no nosso estudo as avaliações foram realizadas com 45° de abdução. Enquanto fixamos um arco de movimento (ADM) de 90° (45° de rotação medial e 45° de rotação lateral) e velocidades angulares de 60°/s e 240°/s, Wredmark et al.[19] apresentaram velocidades angulares de 30°/s e 90°/s (sem demonstrar ADM), Dauty et al.[20] apresentaram velocidades angulares de 60°/s e 120°/s com ADM de 105° (60° rotação medial e 45° rotação lateral), Edouard et al.[21] apresentaram velocidades angulares de 60°/s, 120°/s e 180°/s com ADM de 70° (15° rotação medial e 55° rotação lateral), e Caubère et al.[10] apresentaram velocidades angulares de 60°/s, 180°/s e 240°/s com ADM de 60° (30° rotação medial e 30° rotação lateral).
Em nossos resultados, a média do pico de torque e o trabalho máximo pelo protocolo padrão no ombro não-operado foi maior que a média do lado operado para os RMs e RLs, apresentando p ≤ 0,01. Observamos um déficit no pico de torque do modo concêntrico de 17,3% dos RMs e 23,2% dos RLs a 60°/s, e 12,7% dos RMs e 29,1% dos RLs a 240°/s. Dauty et al.[20] encontraram uma recuperação quase completa da força do ombro após 3 meses da cirurgia. No entanto, foi relatado um déficit no pico de torque no modo excêntrico dos RMs do ombro operado em relação ao ombro saudável de 9 a 15%.[20] Outro estudo apresentou uma redução significativa de força no modo concêntrico de 13% e 10% para os RMs, e de 19% e 10% para o RLs para o pico de torque em 60°/s e 240°/s, respectivamente, do ombro operado versus saudável após 1 ano de cirurgia.[10] ([Tabela 5])
Autor |
Avaliação |
Pico de torque |
|
---|---|---|---|
Rotação medial |
Rotação lateral |
||
Wredmark et al., 1992 |
Ombro operado x saudável |
Semelhante |
Semelhante |
Dautya et al., 2007 |
Pré-operatório: Ombro lesionado X saudável |
Semelhante |
Semelhante |
Pós-operatório: Ombro operado x saudável |
Semelhante |
Semelhante |
|
Ombro lesionado: pré-operatório X pós-operatório |
Excêntrico (défict de 9–15%) |
Semelhante |
|
Edouard et al., 2012 |
Ombro lesionado: pré-operatório X pós-operatório |
3m: -28% ± 20% |
3m: -17% ± 17% |
6m e 21m: Semelhante |
6m e 21m: Semelhante |
||
Caubère et al., 2017 |
Ombro operado X saudável |
60°/S -13% // 240°/S -10% |
60°/S -19% // 240°/S -10% |
Ribeiro et al. |
Ombro operado x saudável |
60°/S - 17,3% // 240°/S - 12,7% |
60°/S - 23,2% // 240°/S - 29,1% |
A análise do equilíbrio convencional e funcional entre os RLs e RMs, não mostrou diferenças entre as médias encontradas no lado operado versus o lado não operado. Esta avaliação é importante para averiguar se o ombro se encontra biomecanicamente estável. Na literatura, o estudo de Caubère et al.[10] mostrou que o equilíbrio funcional do ombro foi mantido após o procedimento cirúrgico de Latarjet. O motivo pelo qual existe uma redução de força dos RLs não é evidente, podendo-se conjecturar que esteja relacionado ao simples processo de inativação muscular do pós operatório.
Atualmente, os dados da literatura são conflitantes a respeito dos efeitos da cirurgia de Bristow-Latarjet nos parâmetros isocinéticos. Enquanto o estudo de Wredmark et al.[19] mostrou que não ocorre alteração da força muscular e da amplitude de movimento dos RMs e RLs após o procedimento cirúrgico, outros mostraram a redução da força muscular.[10] [12] [22] [23] O tempo de recuperação parece ser um ponto importante, e nossos resultados associados a dados da literatura verificaram que a função e a amplitude de movimento podem se restabelecer com o tempo de recuperação.
Nosso estudo apresenta como fatores positivos a homogeneidade da amostra (todos os pacientes eram atletas), o seguimento do protocolo da modificação de Davies, a comparação inédita da perda de amplitude doADM com avaliação isocinética e de acordo com nosso conhecimento, a presente pesquisa se trata do primeiro estudo brasileiro que aborda esta temática. Entretanto, tivemos algumas limitações, tais como o número de participantes inferior aos dos estudos anteriores, que variam de 20 a 44 pacientes, a n = ão investigação da correlação com imagem do subescapular na ressonância magnética para avaliar se a perda de força foi devida a uma atrofia muscular ou degeneração gordurosa, e a não avaliação da consolidação do enxerto. Devido ao desenho transversal, não pudemos caracterizar as diferenças de avaliação isocinética no pré- e pós-operatório.
Dessa forma, acreditamos que o dinamômetro isocinético pode servir como um instrumento de análise objetiva do ombro, tornando-se uma ferramenta eficaz e segura para a avaliação após a cirurgia de Bristow-Latarjet, já que há poucos critérios de retorno ao esporte validados pela literatura.
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Conclusão
Houve diminuição da força dos RMs e RLs no ombro operado em relação ao ombro saudável após cirurgia de Bristow/Latarjet; entretanto, o equilíbrio convencional e funcional foi mantido.
Houve uma maior força dos RLs no grupo com mais de 1 ano de cirurgia e a perda da ADM em 10 graus de rotação lateral não influenciou na perda de força.
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Suporte Financeiro
Não houve apoio financeiro de fontes públicas, comerciais, ou sem fins lucrativos.
* Trabalho desenvolvido no Centro de Traumatologia do Esporte da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
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Referências
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Endereço para correspondência
Publikationsverlauf
Eingereicht: 26. Februar 2020
Angenommen: 28. Oktober 2020
Artikel online veröffentlicht:
31. März 2021
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