CC BY-NC-ND 4.0 · Rev Bras Ortop (Sao Paulo) 2020; 55(04): 438-444
DOI: 10.1055/s-0039-3400517
Artigos Originais
Mão

Prevalência de sintomas de ansiedade e depressão em pessoas com a síndrome do túnel do carpo[*]

Artikel in mehreren Sprachen: português | English
Henver Ribeiro Paiva Filho
1   Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil
,
Franco Luiz Cabral Pedroso
2   Serviço de Ortopedia e Traumatologia, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil
,
Fernando Brito Bueno
2   Serviço de Ortopedia e Traumatologia, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil
,
1   Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil
,
Elias Felix Oliveira
1   Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil
,
Murilo Antônio Rocha
2   Serviço de Ortopedia e Traumatologia, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil
› Institutsangaben
 

Resumo

Objetivos Demonstrar a prevalência de sintomas de depressão e ansiedade em pessoas com a síndrome do túnel do carpo atendidas em um ambulatório de cirurgia da mão e descrever as características clínicas e epidemiológicas dessa população.

Métodos Foram avaliadas pessoas com o diagnóstico de síndrome do túnel do carpo na consulta inicial em um período de coleta de dados de 6 meses. Características clínicas e epidemiológicas foram anotadas, e as pessoas que possuíam diagnóstico de ansiedade e/ou depressão foram avaliadas.

Resultados Um total de 101 pessoas apresentavam síndrome do túnel do carpo e destas, 38 apresentavam diagnóstico de depressão e 29 de ansiedade. Houve prevalência de mulheres de baixa renda, com predominância do nível de escolaridade fundamental. Mais da metade dos pacientes apresentava pelo menos uma comorbidade sistêmica associada.

Conclusão Tanto para ansiedade como para depressão, as características que influenciaram estatisticamente nos sintomas em pacientes com síndrome do túnel do carpo independente das demais características avaliadas foram gênero, tabagismo, e renda familiar (p < 0,05).


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Introdução

A síndrome do túnel do carpo (STC) é considerada a neuropatia periférica mais comum. É caracterizada pela presença de sintomas de dormência e formigamento devido à compressão do nervo mediano ao nível do túnel do carpo, com prevalência estimada em 3% da população geral.[1] A depressão está entre os problemas de saúde mental mais comuns, afetando em torno de 300 milhões de pessoas em todo o mundo.[2] É considerada uma das principais causas de incapacidade, com perdas substanciais de produtividade no trabalho e grande impacto financeiro à sociedade.[3]

Na STC, a relação entre sintomas depressivos e os resultados cirúrgicos é de particular interesse, visto que ambos são condições altamente prevalentes, especialmente em mulheres.[4]

Evidências sustentam o papel significativo dos estilos de vida como determinantes de depressão, dentre eles a atividade física, o consumo de álcool, o tabagismo, e a obesidade.[5] [6]

O diagnóstico de depressão é realizado por meio da escuta às queixas do paciente e da busca ativa por sintomas que possam ser negligenciados ou não verbalizados. Dentro desse espectro, as classificações diagnósticas (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – CID 10 e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5) definem categorias nosológicas a partir de parâmetros clínicos como duração, persistência, abrangência, perturbação do funcionamento psicológico e fisiológico, e desproporção em relação a um fator desencadeante. Em alguns países desenvolvidos, o número de pessoas que sofrem de depressão tem aumentado. No Japão, que é considerado um dos países com maior índice de suicídio do mundo, a depressão é a principal causa de afastamento do trabalho dentre os trabalhadores em atividade.[7] Estudos prévios demonstram que condições como depressão e ansiedade podem contribuir para a limitação funcional em pacientes com enfermidades musculoesqueléticas na extremidade superior.[8]

É primordial a compreensão sobre fatores epidemiológicos, sociais, e culturais das pessoas com STC e afecções relacionadas à saúde mental, especificamente a ansiedade e a depressão, o que pode otimizar o cuidado do paciente como um todo. O nosso trabalho se justifica pela escassez de estudos publicados sobre essa temática.

O objetivo do presente estudo foi demonstrar as características clínicas, epidemiológicas, e socioeconômicas das pessoas com a STC em acompanhamento ambulatorial que apresentam sintomas de depressão e ansiedade.


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Casuística e Métodos

Foi realizado estudo observacional, descritivo, transversal, quali-quantitativo, com avaliação de pacientes em acompanhamento ambulatorial para a STC, agendados de forma consecutiva no período de 6 meses. Todos os procedimentos foram realizados de acordo com os padrões éticos determinados pelo Comitê de Ética em Pesquia para pesquisa em seres humanos e com a Declaração de Helsinque de 1964. O termo de consentimento livre e esclarecido foi obtido de todos os participantes do estudo mediante assinatura de termo específico.

Os critérios de inclusão foram pessoas de ambos os gêneros, acima de 18 anos de idade, que apresentavam diagnóstico clínico de STC em acompanhamento ambulatorial na especialidade cirurgia da mão e diagnóstico clínico de depressão e/ou ansiedade em acompanhamento ambulatorial na especialidade psiquiatria. Foram excluídas pessoas portadoras de outras doenças neuropsiquiátricas e aquelas com limitações cognitivas que impossibilitassem responder aos questionamentos.

Durante o atendimento ambulatorial os participantes foram interrogados sobre sintomas de ansiedade e depressão, conforme o protocolo de atendimento ambulatorial, no qual continha variáveis clínicas e epidemiológicas (idade, gênero, índice de massa corporal, estado civil, número de filhos, tabagismo, escolaridade, doenças associadas, profissão, renda familiar, e tempo de diagnóstico) e questionário baseado nos critérios de ansiedade e depressão segundo o DSM-5.[2]

As características qualitativas foram descritas com uso de frequências absolutas e relativas, e as idades com uso de média e desvio padrão em todos os pacientes avaliados. A prevalência de ansiedade e depressão foi demonstrada segundo cada característica qualitativa e verificada a associação com uso de testes qui-quadrado ou testes exatos (teste exato de Fisher ou teste da razão de verossimilhanças). As idades foram descritas segundo ansiedade e depressão e comparadas com uso do teste t-Student.[9] Foram estimadas as razões de chances de cada variável avaliada para ansiedade e depressão com os respectivos intervalos com 95% de confiança com uso de regressão logística simples.[10]

Modelos de regressão logística múltipla[10] foram estimados para ansiedade e depressão, selecionando-se as variáveis que nos testes bivariados apresentaram níveis de significância inferiores a 0,10 (p < 0,10) e variáveis clinicamente importantes para ansiedade e depressão. Para realização das análises foi utilizado o software SPSS for Windows versão 22.0 (IBM Corp., Armon, NY, EUA) e para tabulação dos dados foi utilizado o software Microsoft Excel 2003 (Microsoft Corp., Redmond, WA, EUA). Os testes foram realizados com nível de significância de 5%.


#

Resultados

A [Tabela 1] sintetiza as características clínicas e epidemiológicas da nossa amostra. Foram atendidas 101 pessoas com diagnóstico da STC, sendo 86 mulheres (85,1%) e 15 homens (14,9%). A média de idade foi 54,7 anos ± 10,8 (mínimo 35 e máximo 78 anos). Obesidade foi verificada em 31 casos (30,7%) e sobrepeso em 36 (35,6%). 67 pessoas (66,3%) se declararam casadas, 15 (14,9%) solteiras, 13 (12,9%) divorciadas e 6 (5,9%) viúvas. Um total de 93,1% das pessoas (94 casos) relataram possuir filhos. Tabagistas e ex-tabagistas foram igualmente relatados em 16 casos cada (15,8%). O nível de escolaridade predominante foi o ensino fundamental (46 casos). 31 casos (30,7%) não apresentavam comorbidades associadas, enquanto 31 (30,7%) apresentavam somente uma doença sistêmica (hipertensão ou diabetes) e 39 (38,6%) 2 ou mais (pelo menos hipertensão e diabetes). Um total de 61 pessoas (60,4%) relataram estar em atividade laboral atual, enquanto 40 pessoas (39,6%) se declararam aposentadas. A renda familiar igual ou inferior a 1 salário mínimo foi registrada em 76 pessoas (75,2%), enquanto 3 pessoas (3%) informaram renda familiar igual ou superior a 3 salários mínimos. A depressão foi diagnosticada em 38 casos (37,6%) e a ansiedade em 29 (28,7%).

Tabela 1

Variável

Descrição (N = 101)

Idade (anos), mean ± desvio padrão

54,7 ± 108

Gênero, n (%)

Feminino

86 (85,1)

Masculino

15 (14,9)

Índice de massa corpórea, n (%)

Sobrepeso

36 (35,6)

Obesidade

31 (30,7)

Normal

34 (33,7)

Estado civil, n (%)

Solteiro

15 (14,9)

Casado

67 (66,3)

Divorciado

13 (12,9)

Viúvo

6 (5,9)

Filhos, n (%)

Sim

94 (93,1)

Não

7 (6,9)

Tabagismo, n (%)

Não

69 (68,3)

Sim

16 (15,8)

Ex-tabagista

16 (15,8)

Escolaridade, n (%)

Alfabetizado

24 (23,8)

Ensino fundamental incompleto

28 (27,7)

Ensino fundamental completo

18 (17,8)

Ensino médio incompleto

5 (5)

Ensino médio completo

21 (20,8)

Ensino superior

5 (5)

Outras doenças, n (%)

Uma comorbidade sistêmica

31 (30,7)

Duas ou mais comorbidades sistêmicas

39 (38,6)

Sem comorbidades sistêmicas

31 (30,7)

Profissão, n (%)

Aposentado/Do lar

40 (39,6)

Em atividade laboral

61 (60,4)

Renda familiar, n (%)

Até 1 salário

76 (75,2)

Entre 1 e 3 salários

22 (21,8)

Maior que 3 salários

3 (3)

Diagnóstico de depressão, n (%)[*]

Depressão

18 (47,4)

Ansiedade

8 (21,1)

Misto – depressão e ansiedade

12 (31,6)

Tempo de diagnóstioc, n (%)[*]

1 ano

5 (13,2)

Entre 1 e 5 anos

17 (44,7)

Maior que 5 anos

16 (42,1)

História familiar, n (%)[*]

Sim

12 (31,6)

Não

26 (68,4)

Ansiedade, n (%)

Não

72 (71,3)

Sim

29 (28,7)

Depressão, n (%)

Não

63 (62,4)

Sim

38 (37,6)

A [Tabela 2] descreve as características das pessoas com diagnóstico de STC e ansiedade e a [Tabela 3] as características das pessoas com diagnóstico de STC e depressão. A [Tabela 4] demonstra os resultados dos modelos para explicar a freqüência de ansiedade e depressão ajustados pelas características pessoais e clínicas avaliadas.

Tabela 2

Variável

Ansiedade

Razão de chances

Intervalo de confiança (95%)

valor-p

Não (N = 72)

Sim (N = 29)

Inferior

Superior

Idade (anos), média ± desvio padrão

55,4 ± 11,5

53,1 ± 8,7

0,98

0,94

1,02

0,349**

Gênero, n (%)

0,061*

Feminino

58 (67,4)

28 (32,6)

6,76

0,85

54,01

Masculino

14 (93,3)

1 (6,7)

1,00

Índice de massa corpórea, n (%)

0,663

Sobrepeso

24 (66,7)

12 (33,3)

1,63

0,57

4,66

Obesidade

22 (71)

9 (29)

1,33

0,44

4,03

Normal

26 (76,5)

8 (23,5)

1,00

Estado civil, n (%)

0,123#

Solteiro

8 (53,3)

7 (46,7)

1,00

Casado

52 (77,6)

15 (22,4)

0,33

0,10

1,06

Divorciado

7 (53,8)

6 (46,2)

0,98

0,22

4,34

Viúvo

5 (83,3)

1 (16,7)

0,23

0,02

2,46

Filhos, n (%)

0,406*

Sim

68 (72,3)

26 (27,7)

0,51

0,11

2,44

Não

4 (57,1)

3 (42,9)

1,00

Tabagismo, n (%)

0,035#

Não

52 (75,4)

17 (24,6)

1,00

Sim

13 (81,3)

3 (18,8)

0,71

0,18

2,78

Ex-tabagista

7 (43,8)

9 (56,3)

3,93

1,27

12,17

Escolaridade, n (%)

0,602#

Alfabetizado

18 (75)

6 (25)

1,00

Ensino fundamental incompleto

22 (78,6)

6 (21,4)

0,82

0,23

2,98

Ensino fundamental completo

12 (66,7)

6 (33,3)

1,50

0,39

5,77

Ensino médio incompleto

2 (40)

3 (60)

4,50

0,60

33,71

Ensino médio completo

14 (66,7)

7 (33,3)

1,50

0,41

5,48

Ensino superior

4 (80)

1 (20)

0,75

0,07

8,09

Outras doenças, n (%)

0,315

Uma comorbidade sistêmica

25 (80,6)

6 (19,4)

0,59

0,18

1,91

Duas ou mais comorbidades sistêmicas

25 (64,1)

14 (35,9)

1,37

0,50

3,78

Sem comorbidades sistêmicas

22 (71)

9 (29)

1,00

Profissão, n (%)

0,264

Aposentado/Do lar

31 (77,5)

9 (22,5)

1,00

Em atividade laboral

41 (67,2)

20 (32,8)

1,68

0,67

4,19

Renda familiar, n (%)

0,011#

Até 1 salário

58 (76,3)

18 (23,7)

1,00

Entre 1 e 3 salários

14 (63,6)

8 (36,4)

1,84

0,67

5,09

Maior que 3 salários

0 (0)

3 (100)

&

Tabela 3

Variável

Depressão

Razão de chances

Intervalo de confiança (95%)

valor=p

Não (N = 63)

Sim (N = 38)

Inferior

Superior

Idade (anos), média ± desvio padrão

55,1 ± 11,3

54,1 ± 10,1

0,99

0,96

1,03

0,653**

Gênero, n (%)

0,127

Feminino

51 (59,3)

35 (40,7)

2,75

0,72

10,45

Masculino

12 (80)

3 (20)

1,00

Índice de massa corpórea, n (%)

0,294

Sobrepeso

19 (52,8)

17 (47,2)

2,15

0,80

5,76

Obesidade

20 (64,5)

11 (35,5)

1,32

0,47

3,74

Normal

24 (70,6)

10 (29,4)

1,00

Estado civil, n (%)

0,198#

Solteiro

6 (40)

9 (60)

1,00

Casado

46 (68,7)

21 (31,3)

0,30

0,10

0,97

Divorciado

7 (53,8)

6 (46,2)

0,57

0,13

2,57

Viúvo

4 (66,7)

2 (33,3)

0,33

0,05

2,43

Filhos, n (%)

0,100*

Sim

61 (64,9)

33 (35,1)

0,22

0,04

1,18

Não

2 (28,6)

5 (71,4)

1,00

Tabagismo, n (%)

0,075

Não

47 (68,1)

22 (31,9)

1,00

Sim

10 (62,5)

6 (37,5)

1,28

0,41

3,98

Ex-tabagista

6 (37,5)

10 (62,5)

3,56

1,15

11,04

Escolaridade, n (%)

0,791#

Alfabetizado

15 (62,5)

9 (37,5)

1,00

Ensino fundamental incompleto

18 (64,3)

10 (35,7)

0,93

0,30

2,87

Ensino fundamental completo

12 (66,7)

6 (33,3)

0,83

0,23

3,00

Ensino médio incompleto

2 (40)

3 (60)

2,50

0,35

17,94

Ensino médio completo

14 (66,7)

7 (33,3)

0,83

0,24

2,84

Ensino superior

2 (40)

3 (60)

2,50

0,35

17,94

Outras doenças, n (%)

0,021

Uma comorbidade sistêmica

24 (77,4)

7 (22,6)

0,61

0,20

1,90

Duas ou mais comorbidades sistêmicas

18 (46,2)

21 (53,8)

2,45

0,92

6,54

Sem comorbidades sistêmicas

21 (67,7)

10 (32,3)

1,00

Profissão, n (%)

0,389

Aposentado/Do lar

27 (67,5)

13 (32,5)

1,00

Em atividade laboral

36 (59)

25 (41)

1,44

0,63

3,33

Renda familiar, n (%)

0,028#

Até 1 salário

51 (67,1)

25 (32,9)

1,00

Entre 1 e 3 salários

12 (54,5)

10 (45,5)

1,70

0,65

4,47

Maior que 3 salários

0 (0)

3 (100)

&

Tabela 4

Desfecho

Variável

Razão de chnaces

Intervalo de confiança (95%)

p

Inferior

Superior

Ansiedade

Idade (anos)

0,99

0,94

1,03

0,547

Gênero (feminino)

18,55

1,65

208,27

0,018

Tabagismo (referência: não)'

1,00

Tabagista

0,73

0,16

3,26

0,676

Ex-tabagista

6,05

1,64

22,34

0,007

Renda familiar

5,18

1,75

15,37

0,003

Depressão

Idade (anos)

0,99

0,64

1,05

0,782

Gênero (feminino)

8,91

1,32

60,29

0,025

Filhos

0,18

0,02

1,34

0,094

Tabagismo (Referência: Não)

1,00

Tabagista

1,77

0,49

6,40

0,387

Ex-tabagista

4,30

1,15

16,13

0,031

Renda familiar

4,26

1,41

12,82

0,010

Outras doenças (Referência: Sem comorbidades sistêmicas)

1,00

Uma comorbidade sistêmica

0,70

0,19

2,62

0,595

Duas ou mais comorbidades sistêmicas

3,34

0,94

11,87

0,062


#

Discussão

A prevalência de ansiedade em pacientes com STC foi de 28,7% e a prevalência de depressão foi de 37,6%. O tabagismo e a renda familiar apresentaram associação estatisticamente significativa com a frequência de ansiedade dos pacientes com a STC (p = 0,035 e p = 0,011 respectivamente). A frequência de depressão apresentou associação estatisticamente significativa isoladamente com outras doenças e com a renda familiar dos pacientes com STC (p = 0,021 e p = 0,028 respectivamente).

Nosso estudo demonstrou que mulheres com a STC apresentaram risco de possuir ansiedade 18,55 vezes em relação aos homens. Acredita-se que as concentrações de estrogênio induzidas pelos inibidores da aromatase reduzem o efeito anti-nociceptivo do estrogênio, o que diminui o limiar para os estímulos dolorosos e, consequentemente, aumentando o risco de sintomas de afecções musculoesqueléticas, dentre elas a STC.[11]

Verificamos que ex-tabagistas apresentaram risco de ansiedade 6,05 vezes maior que pessoas não tabagistas. Em relação à renda familiar, a cada categoria de aumento da renda houve risco aumentado de ansiedade em 5,18 vezes, independente das demais características avaliadas.

Mulheres com a STC apresentaram risco de depressão 8,91 vezes maior que em homens. Ex-tabagistas apresentaram risco de depressão 4,30 vezes mais que naqueles não tabagistas e a cada aumento na categoria de renda familiar houve aumento de 4,26 vezes no risco de depressão independente das demais características dos pacientes.

Adesão a múltiplos estilos de vida saudáveis, índice de massa corporal dentro da normalidade, não fumantes, adequada atividade física e de lazer, alta ingestão de vegetais e frutas, e duração adequada do sono foi associado a um risco significativamente menor de depressão.[12] Nosso estudo demonstrou que, apesar de não observarmos diferença estatisticamente signiciativa (p > 0,05) comparados isoladamente, o número de pessoas com sobrepeso ou obesidade ainda foi alto quando avaliados em conjunto, correspondendo a mais da metade da nossa amostra (66,3%).

Nossos achados são consistentes com estudos anteriores, que mostram associação significativa entre alguns fatores do estilo de vida saudável combinados e sintomas depressivos. De acordo com Adjibade et al.,[12] pacientes com múltiplos fatores de estilo de vida saudável (não fumar, baixa ingestão de álcool, ser fisicamente ativo, ter dieta saudável e índice de massa corporal dentro da normalidade) apresentaram menor risco de sintomas de depressão em comparação com aqueles com apenas dois ou menos fatores de estilo de vida saudável. Em nossos resultados, o índice de massa corporal não foi correlacionado ao índice maior de depressão ou ansiedade quando comparados isoladamente; entretanto, quase dois terços das pessoas apresentavam-se com valores acima da normalidade. Em nosso estudo, tanto para ansiedade como para depressão, as características que influenciaram estatisticamente esses sintomas em pacientes com STC independente das demais características avaliadas foram gênero, tabagismo, e baixa renda familiar (p < 0,05).


#

Conclusão

A prevalência de sintomas de ansiedade e depressão em pessoas com a STC é alta. O gênero feminino, o tabagismo e a renda familiar foram as características da amostra que mais influenciaram na presença desses sintomas.


#
#

* Trabalho feito no Serviço de Ortopedia e Traumatologia, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, Minas Gerais, Brasil.


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Endereço para correspondência

Valdênia Graças Nascimento Paiva, MD
Ambulatório Maria da Glória – Ortopedia e Traumatologia, Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM/Filial EBSERH)
Uberaba, MG
Brasil   

Publikationsverlauf

Eingereicht: 14. Juni 2019

Angenommen: 15. August 2019

Artikel online veröffentlicht:
29. Mai 2020

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Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Published by Thieme Revinter Publicações Ltda
Rio de Janeiro, Brazil

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