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DOI: 10.1055/s-0038-1673209
Dissecção bilateral espontânea de carótidas com acidente vascular encefálico isquêmico: relato de caso e revisão bibliográfica
Publication History
Publication Date:
06 September 2018 (online)
Apresentação do caso: Paciente feminina, caucasiana, 41 anos, com história de afasia e hemiparesia direita incompleta desproporcionada súbitas. Submetida à tomografia computadorizada de crânio (TCC) que revelou trombo na artéria cerebral média esquerda (ACMe), sendo contra-indicada trombólise endovenosa por se apresentar fora da janela terapêutica. Decorridas 12 horas do íctus, apresentou deterioração neurológica, sendo feita nova TCC que mostrou isquemia no território da ACMe e sinais radiológicos de hipertensão intracraniana. Submetida à hemicraniectomia descompressiva esquerda, sendo encaminhada à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mantida sedada em ventilação mecânica. Realizou angiorressonância magnética (ANGIORM) cervical que revelou dissecção bilateral das carótidas internas (DACi), com trombose da ACMe. Paciente desenvolveu melhora neurológica progressiva, recebendo alta com antiagregante durante 6 meses após 14 dias de internação. ANGIORM de controle apontou resolução da dissecção carotídea (DC) e após 2 meses realizou cranioplastia. Em reabilitação, apresenta-se com afasia leve e hemiparesia espástica direita no seu exame neurológico atual.
Discussão: A DACi extracraniana é a causa mais comum de dissecção de artérias cervicais, representando 2,5% de todos os acidentes vasculares cerebrais (AVC). O principal sintoma da DC é a cefaleia, presente em 92% dos casos, porém ausente no caso descrito, podendo cursar ainda com cervicalgia e isquemia cerebral. A dissecção bilateral é rara e pouco relatada sendo que não há na literatura explicações para a dissecção espontânea e síncrona de duas artérias independentes. O exame padrão ouro ainda é a angiografia diagnóstica, porém o exame elegido neste caso para diagnóstico e seguimento de DACi foi a ANGIORM, que apresenta crescente uso na identificação destes casos. O tratamento mais usado é a anticoagulação, embora a antiagregação plaquetária seja uma opção. Apesar do bom prognóstico dos pacientes com DC, o principal preditor de mau prognóstico é o infarto cerebral. Logo, alto índice de suspeição, diagnóstico precoce e adequada intervenção favorecem a evolução satisfatória do quadro.
Comentários finais: Face à raridade do quadro de DACi bilateral e da apresentação inicial sem sinais precoces clássicos que sugerem o diagnóstico capaz de prevenir complicações isquêmicas, faz-se necessária a discussão e compartilhamento de informações para ampliar o conhecimento em relação a esta entidade nosológica.